quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Diário de um rush ruim

A constatação de sua incapacidade é acachapante. E por umas boas horas o desnorteio te enfraquece e diminui qualquer imagem de "ser" que você pudesse ter. Vamos aos fatos. Num contexto de culpa, corri como um louco para pegar o Rafael na escola, como nas recentes vezes que me disciplinei a ter oportunidade de faze-lo após o trabalho. Correr. Correr como um louco. Pra quem já foi atropelado por um carro parece um risco a mais faze-lo na hora do rush do Rio de Janeiro. As trilhas por entres o carros ainda escondem as motocicletas. E hoje uma delas me pegou. Acordos fechados: minhas escoriações no pé, joelho, braço e rosto, uma manete, um retrovisor e suas respectivas indenizações por R$ 50,00. Mas a corrida não havia terminado e continuei correndo tentando pegar barca de 18:30. (Será que quebrei o nariz de novo? Devia ir ao hospital. Não! Primeiro tenho que pegar o Rafael.) Ao chegar em Niterói, nova corrida e...engarrafamento. Não vai dar tempo. (Droga devia ter ido à pé...mas meu joelho está doendo...) Encontro Rafael com a Grace na rua e que felicidade ver o sorriso de meu filho (a dor no pé é suportável). Chegamos em casa e combino com ele que vou sair para consertar o carro e na verdade vou ao hospital (outro erro: nunca mentiria pra ele). No hospital, fico irritado por estar lá. Pra que é que estava correndo mesmo? Pra ficar com o Rafael! E onde eu estou?! De volta, com um diagnóstico de normalidade brinco um pouco com ele cheio de alegria e eu irritado pelo tempo que perdi com ele. Quando vamos dar o remédio da noite ele se recusa e acabo por perder a paciência e brigo com ele. Saio furioso e vou deitar um pouco pra me acalmar. Pra que é que estava correndo mesmo? Com Rafael já preparado para dormir vou me desculpar na sua cama e vem a sentença dura de que ele não quer falar comigo. Pra que é que estava correndo mesmo? Nessa desventura em série reflito agora na causa-raiz disso tudo: culpa, corrida, atropelamento, irritação, tristeza. E me sinto incapaz de faze-lo. Ainda opaco "ser".